sábado, 25 de julho de 2009

Quando Sangue não é o Bastante

















Sexo e violência são o alfa e o ômega do exploitation, e os cineastas dos anos 70 encontravam maneiras cada vez mais bizarras e explícitas de ricochetear entre estes dois tópicos. Os filmes de horror se tornavam cada vez mais sexuais e sacanas e os filmes eróticos cada vez mais sangrentos e sujos.

Enquanto o material realmente extremo ficava na obscuridade, longe da atenção dos críticos de cinema, uma quantidade suficiente deles respingou na audiência e criou uma demanda para esse controverso estilo.

As restrições da censura relaxaram no fim dos anos 60 e começo dos 70, fazendo os filmes eróticos subirem a um novo patamar; um independente sexploitation chamado I Am Curious Yellow (1967), por exemplo, foi o vigésimo filme mais rentável de 1969. Conforme a década virou, a Rua 42 foi ganhando novos limiares de sexo explícito e terror. É até difícil de acreditar o quão rápida esta mudança aconteceu.

Para terem uma noção, em 1971 foi lançado D.O.G. - Deviations On Gratification, dirigido por Jack Gennaro, que inclui uma cena grotesca que - descrita pela conceituada revista Variety - mostra "uma tentativa frustrada de um jovem gay de se atracar com um cão pastor alemão". Puxando a borda um pouco mais, no ano seguinte, uma associação entre os jovens inexperientes Sean Cunnighan (produtor) e Wes Craven (diretor), rendeu Last House on The Left ou ANIVERSÁRIO MACABRO, que tem uma história própria de problemas com órgãos moralistas.
Por muitos anos, o longa era referência de críticos de cinema como a evidência da maior depravação que se poderia imprimir em celulóide. Não deixa de ser irônico quando trinta anos depois a gigante MGM prestigia o filme com uma versão em DVD recheada de extras.

Mas, acredite, podia ser pior: segundo o livro de David Szulkin, Wes Craven's Last House on the Left: The Making of a Cult Classic, algumas cenas eram ainda mais pesadas e repulsivas. Não passar esta barreira foi importante para que o filme não caísse no esquecimento, afinal quem tentou ir além dela continuou nas sombras da obscuridade, tais como Hardgore (de Michael Hugo) e Unwilling Lovers (de Zebedy Colt).

Há uma outra razão lógica para que Craven não entrasse na pornolândia. Combinar pornografia e horror parece o último sonho de um diretor de exploitation, todavia na prática a mescla dificilmente funciona. Há algo absurdamente anti-climático no sexo hardcore que se recusa a entrar no gênero terror e quando alguém tenta forçar a barra, o mutante que resulta é estático e desconfortável. É aí que a coisa pega: se o casal em cópula é atraente, não prestamos atenção ao roteiro, se o casal não é, dificilmente prestaríamos atenção ao resto do filme.

De tempos em tempos diretores aclamados tentam realizar um pornô que possa ser considerado um filme de arte - Stanley Kubrik quase o fez no final dos anos 60. Porém alguns cineastas na Europa deram uma chegadinha na sacanagem e ganharam um bom dinheiro, vide Joe D'Amato e Jess Franco. Na América, Armand Weston - que começou a carreira como diretor de pornôs - fez The Defiance of Good (1974) e The Nesting (1980), tentando mesclar os dois gêneros. Outras películas que devem ser citadas nesse segmento são The Sex Machine (1971) e Sex Wish (1976).

Antes de Hershell Gordon Lewis, a morte no cinema era simples, limpa e indolor. Na época de Lewis, o descarte de vitimas combinando efeitos grotescos e não convincentes gerou quase uma comédia de humor negro. Com Last House on the Left as coisas mudaram: apesar de Lewis mostrar mutilações gráficas, seu elenco era incapaz de demonstrar emoção, o filme de Craven era infinitamente mais plausível no sofrimento sem mostrar tudo tão explícito, um passo a frente no exploitation.

Confinamento, degradação, humilhação e dor são os principais atrativos de produções como Last House on Dead End Street (1977), Pets (1972), A BRUXA QUE VEIO DO MAR (1976), Bloodsucking Freaks (1976), Human Experiments (1979), Mother's Day (1980) e, obviamente, O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (1974), não é por acidente, portanto, que uma enorme parcela destes filmes que caíram de pára-quedas no Reino Unido acabaram sendo perseguidos no escândalo dos Vídeo Nasties.

Só que o tempo passa e no aspecto de "tortura" gráfica e perturbadora, todos eles seriam sepultados em covas profundas pelos japoneses nos anos 80 e 90, através de aberrações como a série Guinea Pig (1985), Red Room (1999) e Rubber's Lover (1996) só para citar alguns.

Pode parecer sádico de minha parte dizer isso, mas ver alguém morrer no cinema é simples e rotineiro. Extinguir uma existência é "normal" na TV, livros... Ninguém levanta uma pestana: assassinatos são aceitáveis. Mas estupro era um tabu gigante, mostrar uma morte em todos os seus detalhes gráficos "ad nauseam" pode ser feito quantas vezes quiser, mas mostre uma cena de estupro e você tem um teste para a moralidade do público. E enquanto um estupro for considerado um destino pior do que a morte, este quesito não será desafiado na continuidade da história do cinema.

E pode escrever, as motivações para gravar tais cenas têm explicações mais psíquicas do que parece. De acordo com o livro Arousal: The Secret Logic of Sexual Fantasies (2001) escrito pelo médico Michael J. Bader, 24% dos homens e 36% das mulheres já tiveram fantasias com estupro e 10% delas consideraram como sua fantasia favorita. E o exploitation, mais uma vez, respondeu à altura.
Começou com Last House on the Left e não poderíamos deixar de colocar A VINGANÇA DE JENNIFER (1978), também estão nesta barca Wet Wilderness (1975), Hot Summer in the City (1976), Femmes de Sade (1976), Forced Entry (1972), e por aí vai.

No início dos anos 80, dois problemas ocorreram: a pornografia se torna mais acessível ao público interessado com o começo do VHS, e a MPAA passa a apertar mais os pequenos produtores com a censura em favor das gigantes e, assim, cenas de estupro em filmes de horror ou películas temáticas com estupro desapareceram dos cinemas tão subitamente como quanto surgiram.

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