quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Declínio, Morte e o Além Túmulo - O Fim Do Exploitation Encontra o Cinema Atual


Declínio, Morte e o Além Túmulo - O Fim Do Exploitation Encontra o Cinema Atual

O fim do exploitation tem vários causas básicas em conjunto: o início dos multiplexes, a interferência dos grandes estúdios e a explosão do VHS. Pegando o exemplo de diretores que começaram sua fama dentro do nicho independente fica mais fácil fazer esta análise.

Comecemos por John Carpenter: após de emplacar HALLOWEEN como sucesso comercial, foi sondado pelos grandes estúdios e depois de A BRUMA ASSASSINA (1980) fez O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (1982), financiado pela Universal e que talvez seja o filme mais mórbido já financiado por um estúdio gigante. Seus próximos trabalhos são excelentes, mas sem a força potencial de seus primeiros projetos.



O mais prolongado declínio certamente foi o de Tobe Hooper, com O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA como estigma Hooper passou o pão que o diabo amassou com os arranjos de distribuição - conduzida pela Bryanston Distributing controlada pela máfia. E não levou quase nenhum dinheiro.

Death Trap (1976) sofreu nas mãos do produtor Mardi Rustam, foi tirado do comando nos sets de The Dark (1978) e Venom (1981) poucos dias após o início das filmagens, PAGUE PARA ENTRAR REZE PARA SAIR (1979) foi outro que gerou dificuldades de produção.

O que salvou o diretor na época foi a mini-série para TV Salem's Lot (1979), um sucesso popular. Então sua principal chance no mainstream aconteceu com POLTERGEIST (1982), que foi duramente afetado pela interferência do produtor Steven Spielberg.

Mesmo que Spielberg tenha usado uma página inteira da revista Variety para afirmar que tinha confiança em Hooper, o resultado final é mais a cara do trabalho de Spielberg que Hooper. O próximo estúdio foi a Cannon e a história de seus três filmes (FORÇA SINISTRA, O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 2 e INVASORES DE MARTE) falam por si só.

George Romero é outro caso de estudo: o diretor de Pittsburgh encontrou cada vez mais dificuldades em financiar seus projetos, e quando tinha, parecia macumba que os filmes não atingissem a audiência. Adicione a isto o caso de conceitos interessantes naufragados e você tem uma temporada ruim para um magistral profissional.

Tudo começa com CREEPSHOW (1982), que falhou por causa de uma série de propagandas na revista Fangoria que prometiam "o espetáculo de horror da história! Você vai sair engatinhando do cinema!". Stephen King domina o medo nos livros, mas não foi o caso do roteiro desta produção, leve e descompromissada.



Após DIA DOS MORTOS (1985), que teve dificuldades homéricas de pré-produção, houve COMANDO ASSASSINO (1988), que infelizmente não teve retorno financeiro adequado e daí até TERRA DOS MORTOS (2005) o diretor não emplacou nenhum hit e praticamente caiu no "esquecimento" do grande público.

Wes Craven é o grande camaleão da história, talvez o único que conseguiu se encaixar nos esquemas dos grandes estúdios e das massas que frequentam os multiplexes, apesar de altos (A HORA DO PESADELO, PÂNICO) e baixos (A MALDIÇÃO DE SAMANTHA, SHOCKER).

Hoje, de vez em quando, podemos ver alguns flertes do mainstream com os filmes B se tornando "exploitations de luxo": GUERRA DOS MUNDOS (2005) e alguns momentos de JASON X (2001) e INDIANA JONES E A CAVEIRA DE CRISTAL (2008), por exemplo.

Revivais com GRINDHOUSE, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez e o obscuro Black Devil Doll foram tentados, contudo o estrago já está feito: os cineastas e produtores que não tem interferência de grandes estúdios, mesmo de boa vontade, perecem nas mãos da censura estadunidense - a MPAA. Cortes profundos precisam ser feitos para que a classificação seja a menor aceitável, um 'R' (menores de 17 anos acompanhados pelos pais) para ser mais claro.

O problema de levar uma classificação mais pesada que 'R' não é só de abrangência. Como a classificação máxima 'X' (terminantemente proibido para menores de 21 anos) é comumente associada a pornografia, os cinemas raramente passam trailers de filmes 'X', os jornais e TV's não promovem a produção, ou seja, mesmo que haja mercado, a falta de divulgação torna um potencial fiasco comercial.



Claro que lá um filme pode ser exibido sem classificação alguma, só que isso ainda é pior. Não apenas por marketing, mas também é considerado ainda mais ofensivo do que levar um 'X' da MPAA, desta forma a liberdade criativa que os diretores tinham foi pro beleleu e o que hoje é chamado de 'exploitation' virou sinônimo de picaretagem. Basta ver as produções direto para DVD feitas as pressas pela produtora Asylum e Nu Image, todas querendo pegar uma fatia do sucesso alheio, mas sem um pingo de estilo ou originalidade que uma vez cercou a indústria.

Com este extenso estudo - ainda que sem fazer justiça para com a grande força paralela que foi a do exploitation - chegamos a conclusão que os tempos sempre mudam e a explosão de atividade começada nos anos 70 iria acabar de uma forma ou outra. É apenas vergonhoso que a indústria cinematográfica tenha se reestruturado tão profundamente que não tenha deixado espaço para que uma obscura obra tenha minimamente uma chance de atingir as telas do cinema. Obviamente existem exceções, mas não desafiam a regra.

Os exploitations servem agora para os críticos apenas como uma categoria histórica e fica difícil imaginar com as condições de mercado atuais que este fenômeno se repita novamente com a intensidade de outrora. E é apenas através dos embolorados VHS's, DVD's importados – porque no Brasil as chances de um exploitation ser lançado em DVD é zero - e pela internet, através de milhares de fãs obcecados por elas que estas pérolas sobrevivem ao teste do tempo.

E como as rádios que classificam os "melhores de todos os tempos" ignorando a maior parte do passado é fácil dizer que a máquina lucrativa do cinema tira do público um bocado da cultura - ainda que pouca - que o exploitation representa. Lembrar deles não é em obrigação para com a arte ou para desmistificar diretores consagrados, é simplesmente pelo direito a diversidade cultural e por toda a diversão que estas obscuridades podem nos trazer.

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